segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A prosa poética de Charles Baudelaire – “Os olhos dos pobres”


O narrador propõe-se a explicar a razão pela qual odeia uma mulher que um dia já amou desvairadamente, segue-se a representação de sua narrativa:
Passara ele um longo dia romântico com sua amada, fazendo, ambos, juras de amor e prometendo compartilhar seus pensamentos de modo que suas almas se fundissem.
Após um “longo dia que parecera curto” a mulher, cansada, quis sentar-se. Sentou-se então na frente de um luxuoso café que recentemente estreara, o qual era de um luxo exorbitante, o gás iluminava as brilhantes paredes, os espelhos, o ouro das molduras, as damas, as ninfas, as deusas e tudo quanto — de humano e divino — representasse a gula.
Enquanto isso na calçada, havia três pobres esfarrapados cujos olhares exprimiam a contemplação e o pensamento que nutriam em relação aquele suntuoso lugar. O primeiro — um homem grisalho de uns 40 anos — admirava e imaginava o quanto de ouro do pobre mundo continha aquele estabelecimento; o menino que segurava a mão do mais velho, igualmente admirava, mas a consciência advertia-o que só entrava naquele oásis quem não fosse pobre; o terceiro pobre era uma criança cujo olhar não revelava nada além de um estupendo júbilo diante daquela maravilha.
O homem com sua amada, enternece-se e envergonha-se da abundância presente em sua mesa.  Fixa seu olhar no daquelas figuras de modo a dar-lhes seu amor e buscar nelas seu pensamento, quando, sua infeliz amada deplora a estadia e os olhares daqueles pobres, e dirigindo-se a seu amado solicita que ele reclame ao dono do café que expulse os pobres dali.

Desse modo o narrador finaliza a narrativa afirmando a dificuldade de compreensão e incomunicabilidade dos pensamentos entre ele e sua amada, motivo que explica seu ódio à essa mulher.