segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A prosa poética de Charles Baudelaire – “Os olhos dos pobres”


O narrador propõe-se a explicar a razão pela qual odeia uma mulher que um dia já amou desvairadamente, segue-se a representação de sua narrativa:
Passara ele um longo dia romântico com sua amada, fazendo, ambos, juras de amor e prometendo compartilhar seus pensamentos de modo que suas almas se fundissem.
Após um “longo dia que parecera curto” a mulher, cansada, quis sentar-se. Sentou-se então na frente de um luxuoso café que recentemente estreara, o qual era de um luxo exorbitante, o gás iluminava as brilhantes paredes, os espelhos, o ouro das molduras, as damas, as ninfas, as deusas e tudo quanto — de humano e divino — representasse a gula.
Enquanto isso na calçada, havia três pobres esfarrapados cujos olhares exprimiam a contemplação e o pensamento que nutriam em relação aquele suntuoso lugar. O primeiro — um homem grisalho de uns 40 anos — admirava e imaginava o quanto de ouro do pobre mundo continha aquele estabelecimento; o menino que segurava a mão do mais velho, igualmente admirava, mas a consciência advertia-o que só entrava naquele oásis quem não fosse pobre; o terceiro pobre era uma criança cujo olhar não revelava nada além de um estupendo júbilo diante daquela maravilha.
O homem com sua amada, enternece-se e envergonha-se da abundância presente em sua mesa.  Fixa seu olhar no daquelas figuras de modo a dar-lhes seu amor e buscar nelas seu pensamento, quando, sua infeliz amada deplora a estadia e os olhares daqueles pobres, e dirigindo-se a seu amado solicita que ele reclame ao dono do café que expulse os pobres dali.

Desse modo o narrador finaliza a narrativa afirmando a dificuldade de compreensão e incomunicabilidade dos pensamentos entre ele e sua amada, motivo que explica seu ódio à essa mulher. 

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

O Primo Basílio – Personagens e Resumo.

Essa obra de Eça de Queiroz foi escrita em 1878 e tem como principal objetivo evidenciar para a sociedade Portuguesa os defeitos que nela existem. Eça compõe a obra como forma de combate social, expondo em seu enredo uma família burguesa aparentemente feliz, contudo com o desenrolar da trama a degeneração é constante, o vício, as fofocas, a soberba, o adultério, a hipocrisia, o interesse e a mediocridade são alguns conceitos utilizados por Eça nessa obra.
As personagens principais são: Luísa, seu primo Basílio e a empregada Juliana. Personagens como Jorge, marido de Luísa, e Sebastião, amigo de Jorge, tem importante papel na trama. Formando um grupo de amigos está a figura do conselheiro Acácio, homem letrado, da alta sociedade, mas que não participa diretamente na ação da obra; e Dona Felicidade, mulher que nutre uma paixão, por Acácio. Outras personagens, com funções menos pertinentes ao enredo principal, são: Julião, estudante de medicina frustrado, por não obter os lucros desejados; Dona Leopoldina, amiga de Luísa, porém indesejada de o ser por Jorge, devido a fama de “mulher de todos” que Leopoldina carregava;  visconde Reinaldo, aristocrata e amigo de Basílio, representa o desprezo da Burguesia e de Portugal; o senhor Paula , que juntamente com a estanqueira e a carvoeira viviam bisbilhotando a casa de Jorge, representam o povo e suas fofocas; Ernestino, primo de Jorge, artista sem muito estilo e estímulo; Joana, a cozinheira; e Castro, tentado pela Luísa.
                Luísa é uma mulher sonhadora e por muitas vezes ingênua, se casou com Jorge que é engenheiro e bom marido. Em sua casa vivem as empregadas Joana, assanhada e namoradeira e Juliana, que vive triste, é amargurada e sente raiva de tudo e todos. Após uma certa viajem de Jorge, Luísa passa longos dias enfadada em seu lar, convidando amigos para lhe fazer companhia, até que um primo se que não vira desde a infância lhe faz uma visita. Este encanta-se com a beleza de Luísa e a partir daí busca conquista-la, inicialmente, Luísa resiste aos galanteios, contudo, influenciada pelos romances lia, a saber “A dama das Camélias” e também pela conduta de sua amiga Leopoldina, deixa ser consumida pelo desejo e cede aos galanteios de se primo. Acreditando estar sendo amada, Luísa cai num amor delirante por Basílio, contudo, este, após a moça ter cometido o adultério, viaja para França, abandonando Luísa com sua ilusória paixão e encurralada, pois a empregada Juliana havia descoberto o romance e chantageado a patroa. Luísa não tendo condições de pagar o que Juliana pedira, começa a recompensar esta última com peças de roupa, imóvel, bijuterias e até mesmo faz o serviço doméstico que a empregada começara a negligenciar.
Jorge volta de sua viagem e percebe o comportamento estranho de sua mulher, que continuava a servir a empregada com luxos e tafularias. Jorge então, após apanhar sucessivas vezes Juliana na folga, decide demiti-la. Em consequência Juliana coage ainda mais Luísa para dar-lhe o dinheiro, se sentindo pressionada, Luísa decide contar tudo a Sebastião, homem de confiança da família, quando Sebastião a ouve fica horrorizado com a situação e sugere que Luísa leve Jorge ao teatro, para que ele possa ficar sozinho na casa e resolver o caso com Juliana. Quando Sebastião chega à casa ele ameaça denunciar a empregada por roubo, conseguindo assim adquirir as cartas, contudo, Juliana em seu estado crítico de saúde, não suporta ver a chance de seu enriquecimento escapar-lhe, e acaba morrendo.
                Após o óbito de Juliana, Luísa e Jorge passam a noite na casa de Sebastiao, onde ela adoece. Jorge, inquieto com a situação, busca por respostas do adoecimento de sua esposa e supõe que seja algum problema familiar, desse modo, decide abrir uma carta de Basílio que apanhara na correspondência. A carta destinada à Luísa, recordava-a dos momentos que ambos passaram no “Paraíso” quando Jorge estava ausente, denunciado o adultério inadvertidamente. Um delírio homicida inunda a cabeça de Jorge, ao mesmo tempo que se compadece de ver sua esposa adoentada, sente ódio por ter sido traído, contudo ele conteve-se para que o estado de saúde de sua mulher não piorasse. Passado um tempo Luísa melhora e seu marido mostra as cartas que denunciavam a traição, Luísa sofre um choque e adoece novamente, passados alguns dias de sofrimento ela morre.

Referência:

QUEIRÓS, Eça de. O Primo Basílio. São Paulo: Martin Claret, 2002. 388 p.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Texto comparativo da história narrada por Hans Staden no livro "Viagem ao Brasil" e do poema épico de Gonçalves Diaz "I-Juca-Pirama"

               Nessa postagem, que é uma cópia do trabalho que desenvolvi para a matéria de Literatura Brasileira do curso de Letras, estabeleci uma comparação da narrativa do livro “Viagem ao Brasil” de Hans Staden e do épico “I-Juca-Pirama” de Gonçalves Dias. É importante saber que a obra de Hans Staden se trata de um texto informativo, sendo considerada Literatura de Informação, em que o caráter descritivo tem imensa predominância. Sobre a segunda obra, trata-se de um poema épico no qual o caráter estilístico está empregado fazendo com que a obra não seja apenas um registro de costumes, mas sim uma arte que além do conteúdo possui uma forma de elevado grau.
            Na primeira e segunda estrofe do poema já se percebe uma glorificação dos indígenas e da natureza brasileira, que tanto se observa na obra de Staden como em outros documentos histórico, em exemplo a carta de Pero Vaz De Caminha.
Ao relatar que “Os velhos sentados praticam d’outrora”, Gonçalves parece referenciar um fato narrado por Staden, o qual dizia que os chefes se sentaram ao luar para conversarem, e, na representação gráfica presente no livro de 1930, estes aparecem fumando.
Sobre o ritual que é feito para a preparação do prisioneiro, percebe-se imensa semelhança das descrições do épico de Gonçalves com os fatos narrados por Staden como por exemplo: a dança realizada pelas mulheres ao redor do prisioneiro, cantando a morte deste e provocando-o; a bebida cauim que preparam e bebem antes da cerimônia; a corda muçurana com a qual o prisioneiro é amarrado no centro da festa; a ato de convidar tribos vizinhas para o ritual de antropofagia; a fogueira que é acesa na frente do prisioneiro; o preparo do ivirapema, pintando-o e adornando-o com penas; o escalpelo e o tingimento dos membros da vítima, realizado pelas mulheres; a saia enduape, feita de penas, que põem no índio refém; o canitar emplumado também colocado no índio. Pode se observar todas essas semelhanças citadas no texto Staden (1930, p.87): “Convidam então os selvagens de outras aldeias para aí se reunirem naquela época”; “Enchem todas as vasilhas de bebida[...]”; “[...]conduzem o prisioneiro uma ou duas vezes pela praça e dançam ao redor dele”, etc. Também se encontra no poema de G. Dias, “Convidam-se as tribos dos seus arredores”; “Acerva-se a lenha da vasta fogueira/Entesa-se a corda da embira ligeira/Adorna-se a maça com penas gentis[...]”, etc.
No verso “Que soube ufano contrastar os medos/Da fria morte” pode-se compreender que esse enfrentamento do medo, e morte com orgulho tem relação com o fato de o prisioneiro “atirar pedrinhas” nas mulheres que o provocam, e defender-se prometendo vingança dos seus semelhantes para com a tribo que está a assassinar lhe (STADEN, 1930, p. 87). Trata-se, portanto, de morrer honradamente.
            Coerente é a descrição de Gonçalves ao índio encarregado do assassínio, pois, segundo Hans este índio era geralmente de grande prestígio na tribo [...] aquele que deve matar o prisioneiro vai com 14 ou 15 dos seus[...]”. Daí o belo semblante desse guerreiro descrito por Gonçalves, “Em larga roda de novéis guerreiros/Ledo caminha o festival Timbira/ A quem do sacrifício cabe as honras[...]”.
O canto IV do poema é cantado pelo índio que fora aprisionado, logo antes disso o índio encarregado de mata-lo diz-lhe "Dize-nos quem és, teus feitos canta/Ou se mais te apraz, defende-te". Muito semelhante ao comportamento que Staden descreveu de os dois envolvidos, assassino e prisioneiro, trocarem insultos.
            Após o discurso do índio preso, o chefe Timbira manda-o soltar no poema. Não fora, porém, de piedade, mas porque o índio tupi, aprisionado, chorou perante a sua morte e como bem recita o chefe da tribo: “[...]E tu choraste! ...parte; não queremos/Com carne vil enfraquecer os fortes. ” Esse gesto mostra que honra do guerreiro deve ser posta à prova, daí as provocações citada por Staden (1930, p.88) “dão lhe pedrinhas para ele arremessar sobre as mulheres que andam em volta ameaçando devorá-lo.” Tudo isso para que o índio a ser devorado mostrasse sua honra na morte, defendendo-se, jurando vingança e morrendo com honra, para que desse modo –como eles acreditavam– pudessem incorporar a energia ele, assim que o devorassem.
            O culto da morte é tão glorificado quanto a vida dos indígenas, segundo Staden o índio a ser morto defende a si mesmo “Depois de morto, tenho ainda muitos amigos que de certo hão de me vingar” (STADEN, 1930, p. 88). Isso esclarece a atitude do velho, no poema épico, de levar seu filho a tribo dos inimigos timbiras para que se cumpra o ritual, após ter percebido que este fugira em nome de seu pai. E também justifica a atitude de o índio lutar bravamente no canto IX, pois o chefe da tribo timbira havia-o precedido estas palavras: “É teu filho imbele e fraco!  [...]Ele chorou de cobarde/Nós outros, fortes Timbiras/Só de heróis fazemos pasto. ”; desmerecendo seu espírito valente e deplorando-o como vil.

Referências:

STADEN, Hans. Viagem ao Brasil. Tradução de: LOFGRAN, Alberto. Rio de Janeiro: Oficina Industrial Gráfica, 1930.
DIAS, Gonçalves. “I-Juca Pirama” Poemas de Gonçalves Dias. Ed. Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Cultrix, 1980.